December 11, 2025
Por InfoMoney
Os ativos financeiros das famílias brasileiras cresceram 10,1% em 2024, ritmo acima da média global e dos dois anos anteriores (quando cresceu 7%). Isso foi impulsionado por todas as classes de ativos, com títulos (valores mobiliários) subindo 10,9%, seguros/previdência crescendo 8,8% e depósitos bancários com alta de 8,2%, é o que aponta a edição mais recente do Relatório de Riqueza Global elaborado pela Allianz Research, do Grupo Allianz, compartilhado em primeira mão com o InfoMoney.
O estudo avalia a situação dos ativos e das dívidas das famílias em 57 países, incluindo o Brasil, ao longo do ano passado. Na média global, o levantamento aponta que 2024 foi mais um ano recorde para os ativos financeiros das famílias, com um aumento de 8,7%, superior aos 8% registrados no ano anterior.
Segundo Arne Holzhausen, head de Pesquisa de Patrimônio, Seguros e ESG do grupo e um dos responsáveis pelo estudo, o desempenho brasileiro chama atenção, mas precisa ser visto no contexto da última década.
“Sim, o Brasil cresceu mais que o mundo e os Estados Unidos em 2024 — mas por uma margem pequena. Nos últimos dez anos, o país avançou quase o dobro da média global, algo esperado de um mercado emergente”, diz o especialista.
Holzhausen lembra que os ativos financeiros brutos das famílias eram equivalentes a 139% do PIB em 2020, antes da disparada inflacionária da pandemia, e caíram para 128% em 2024. “As famílias começaram a se recuperar das perdas acumuladas durante os anos de inflação alta”, afirma.
Riqueza mais concentrada impacta setor
A desigualdade segue como um dos principais entraves para o avanço dos produtos de seguro e previdência no país. De acordo com o estudo, os 10% mais ricos concentram cerca de 70% da riqueza financeira do país — proporção praticamente estável há 20 anos.
“O Brasil é uma sociedade muito desigual. Isso não significa que os pobres fiquem mais pobres; eles também enriquecem, mas sem conseguir reduzir o ‘gap’. Para diminuir essa distância, a riqueza deles precisaria crescer mais rápido — e isso não acontece”, explica.
Essa concentração tem efeitos negativos sobre o setor de seguros, já que menos famílias conseguem arcar com seguros ou produtos de poupança para a aposentadoria, aponta Holzhausen. Ele destaca, porém, que políticas de acesso — como benefícios fiscais ou subsídios — têm potencial comprovado de reduzir desigualdades como já foi observado em outros países.
Seguro e previdência perdem espaço
O relatório mostra que 62% do portfólio financeiro das famílias brasileiras está alocado em valores mobiliários — categoria que inclui títulos, ações, participações societárias e fundos de investimento. Já a fatia destinada a seguros e previdência caiu para 20%, perda de cerca de 5 pontos percentuais na última década.
Segundo Holzhausen, a queda na participação de seguros e previdência é um fenômeno global e não apenas brasileiro. “Primeiro tivemos um longo período de juros muito baixos; depois, veio a disparada inflacionária, que reduziu a atratividade desses produtos. Os brasileiros reagiram de forma racional, assim como poupadores de outros países”, aponta o especialista.
Ele também destaca que o investidor brasileiro se mostra relativamente sofisticado. Depósitos representam só 17% do portfólio das famílias — menos da metade da média dos mercados emergentes. “Isso mostra que os brasileiros preferem produtos com retornos mais altos em vez de depósitos à vista, que rendem menos”, observa.
O pesquisador destaca que, no mundo, quando as taxas de juros de curto prazo subiram significativamente, muitos recursos migraram para depósitos a prazo e renda fixa. Em 2024, com a queda dos juros, o dinheiro voltou para ações e fundos. “Tendências similares são observadas no Brasil”, pontua.
Ou seja, em um cenário de juros mais altos e inflação normalizada, a expectativa é que a participação de seguros e previdência no portfólio financeiro das famílias brasileiras volte a crescer em um futuro próximo.
Endividamento cresce, mas sem alerta vermelho
Outro dado apurado no levantamento mede o tamanho das dívidas das famílias brasileiras, que cresceram 12,5% em 2024, bem acima da média histórica de 8%, e o endividamento atingiu 36% do PIB. Contudo, apesar da alta, o especialista sinaliza que o nível ainda não preocupa.
“É um patamar administrável. A média dos mercados emergentes é 46%, e na China chegou a 61%”, afirma Holzhausen. Ele lembra que o Brasil já teve um endividamento maior, de 39% em 2015.
O risco, segundo ele, surgiria apenas com um aumento rápido e sustentado da dívida até perto de 100% do PIB — cenário distante da realidade brasileira. ele ressalta que essa foi a dinâmica observada nas crises imobiliárias dos EUA e da Europa em 2009 e que o Brasil “ainda está longe dessa zona de risco”.
Para Holzhausen, o verdadeiro desafio para os brasileiros não é o comportamento de poupança, mas a ampliação do acesso aos produtos de investimento e proteção para que mais famílias consigam poupar regularmente.
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