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Encerramento do QuintoCred expõe fragilidade no mercado de garantia locatícia

Para especialistas, medida reacende debate sobre necessidade de regulação no setor de garantias para alugu ...



Geral
June 5, 2025

Por InfoMoney
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O anúncio do encerramento das operações do QuintoCred Garantia, produto de garantia locatícia oferecido por imobiliárias parceiras do QuintoAndar, pegou o mercado imobiliário de surpresa nesta quarta-feira (4). A medida afeta diretamente 45 mil contratos de locação ativos, administrados por cerca de 3 mil imobiliárias em todo o Brasil e, segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney, expõe fragilidade do mercado de garantias locatícias no País.

Em nota, o QuintoAndar afirmou que a decisão faz parte de uma reestruturação interna para concentrar recursos em áreas consideradas mais estratégicas, como tecnologia e serviços com maior impacto. 

A empresa também reforçou que o QuintoCred era um negócio exclusivamente B2B — voltado para imobiliárias — e não tem relação com contratos firmados diretamente na plataforma entre inquilinos e proprietários. A partir de agora, o serviço não aceitará novos contratos e será encerrado por completo até 2 de outubro de 2025.

O impacto, no entanto, vai além dos contratos em vigor e reacende as discussões sobre a falha estrutural dessas garantias no Brasil, com a ausência de regulação no setor, num momento em que crescem as críticas a startups do segmento.

Efeitos jurídicos

“A decisão do QuintoAndar lança luz sobre a falta de segurança jurídica que ainda permeia o mercado de locações com garantias digitais”, afirma o advogado Jefferson Leão Pires, do escritório Poliszezuk Advogados. Segundo ele, ao contrário das seguradoras tradicionais, muitas dessas empresas operam sem regulação específica, oferecendo produtos semelhantes ao seguro-fiança, mas sem a mesma solidez técnica ou respaldo legal.

Pires aponta ainda que imobiliárias podem ser responsabilizadas civilmente caso tenham oferecido essas garantias a seus clientes sem a devida diligência. “Locadores que confiaram nesses serviços acabam expostos a riscos não contratados conscientemente, e há margem para responsabilização solidária se ficar comprovada negligência ou má-fé”, diz.

O caso do QuintoCred, somado a episódios recentes envolvendo aumento de reclamações de empresas como Onda Segura, Avalyst e ImovPago, cria um ambiente de desconfiança, segundo o advogado. “Sem regras claras e fiscalização, o setor de garantias corre o risco de regredir em vez de avançar”, avalia Pires.

Inovação sob risco

O advogado Eduardo Brasil, sócio do escritório Fonseca Brasil, concorda que o episódio representa um “alerta institucional” sobre a fragilidade do ambiente regulatório. “A ausência de um marco legal específico abre espaço para operadores sem lastro financeiro ou governança adequada, o que expõe locadores e imobiliárias a riscos sistêmicos.”

Ele lembra que as garantias digitais surgiram com a promessa de desburocratizar e acelerar o processo de locação, sobretudo diante do peso que modelos tradicionais, como fiador e caução ainda têm — respondendo por cerca de 50% dos contratos. “Sem confiança, o mercado tende a recuar para o que já conhece, mesmo que seja menos eficiente e mais oneroso”, diz.

Modelo insustentável?

Para o advogado Bruno Boris, sócio do escritório Bruno Boris Advogados, o movimento do QuintoAndar pode ter razões econômicas. “Talvez a margem de lucro da empresa seja maior na venda direta de imóveis do que na intermediação de aluguéis com garantias”, afirma.

Ele alerta, no entanto, que a saída de um grande player não significa o fim do mercado. “Há seguradoras sérias oferecendo seguro-fiança e até títulos de capitalização. O problema está quando a imobiliária promete cobertura sem ter uma seguradora por trás –o que, além de ilegal, é insustentável financeiramente”, explica. “Em muitos casos, o modelo se assemelha a uma pirâmide: usam o dinheiro de quem está pagando para cobrir inadimplência, sem fundo garantidor.”

Um mercado inexplorado

Apesar das incertezas, o mercado de garantias locatícias continua atraindo novos players. Estimativas apontam que o setor tem potencial para movimentar até R$ 36 bilhões. Foi de olho nesse filão que o Grupo OLX e a fintech Creditas firmaram uma parceria recente, oferecendo soluções para as mais de 30 mil imobiliárias que anunciam nos portais OLX, ZAP e Viva Real.

A proposta une a base de clientes da OLX à expertise da Creditas em análise de crédito, oferecendo uma alternativa de fiança onerosa. “Acreditamos na força dessa solução e estamos preparados para acelerar nossa presença no segmento, oferecendo mais alternativas e segurança para locadores e locatários em todo o país”, comentou a empresa ontem em nota.

Para onde vai o mercado?

O recuo do QuintoCred é um divisor de águas para o setor. Se, por um lado, evidencia os desafios operacionais e regulatórios enfrentados pelas garantidoras digitais, por outro, ressalta a necessidade de se estabelecer um marco legal para proteger consumidores e fomentar inovação com responsabilidade.

Enquanto isso, inquilinos voltam a encarar a burocracia e a dor de cabeça de procurar um fiador, ou pior, arcar com os custos do seguro-fiança ou o desembolso antecipado de até três meses de aluguel em forma de caução. Até que haja mais clareza jurídica e padronização do setor, o acesso à moradia por meio de locação pode se tornar mais difícil — justamente o oposto do que essas soluções propunham resolver.





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