November 19, 2025
Por 🏆 Seguro Gaúcho | Arthur Moraes
Imagem de capa: Tânia Rêgo/Agência Brasil
A inovação no mercado de seguros nem sempre nasce de algoritmos, aplicativos ou inteligência artificial. Às vezes, ela brota onde menos se espera: nas vielas das favelas brasileiras, entre o som das crianças brincando, os fios que se cruzam no alto dos postes e o corre diário de quem acorda cedo para garantir o sustento da família. É ali, no coração pulsante das comunidades, que o setor começa a enxergar algo que por muito tempo passou despercebido: o potencial humano e econômico das favelas, e a urgência de sua proteção financeira.
Segundo o estudo Um País Chamado Favela, do Instituto Data Favela e da CUFA (Central Única das Favelas), essas comunidades movimentam mais de R$ 300 bilhões por ano em renda própria, um montante superior ao PIB de países como Bolívia e Paraguai. Para se ter uma ideia, se as favelas formassem um estado, seriam o quarto maior em população do país, com 16,4 milhões de habitantes, e teriam um potencial de consumo de R$ 167 bilhões.
Mas, apesar desses números impressionantes, a realidade ainda é de vulnerabilidade: em boa parte dos 6 milhões de domicílios localizados em favelas (dados do IBGE), a renda familiar depende de uma ou duas pessoas. É nesse cenário que o mercado de seguros tenta mudar de postura, trocando o olhar distante por um olhar de dentro, empático, criando pontes que unem proteção financeira, inclusão social e dignidade.
Dois projetos se tornaram símbolos dessa virada: o Favela Seguros, iniciativa da MAG Seguros em parceria com a Favela Holding, e o MAPFRE na Favela, da MAPFRE Seguros. Ambos apontam para o mesmo horizonte: o de um mercado que começa a compreender que inclusão também é inovação.
Uma ponte entre dois mundos
O Favela Seguros nasceu em 2024 dentro de uma ideia simples e poderosa: levar proteção e oportunidade para dentro das comunidades. Criado pela Favela Holding, grupo de empresas fundado por Celso Athayde e voltado ao desenvolvimento das favelas, em parceria com a MAG Seguros, o projeto começou em quatro territórios do Rio de Janeiro e São Paulo: Rocinha, Complexo da Penha, Brasilândia e Paraisópolis. A proposta une a experiência de uma seguradora com quase dois séculos de história ao conhecimento local de quem vive, empreende e cria soluções dentro da própria favela.
Para Ronaldo Gama, head da Favela Seguros, o impacto é imediato:
“Promovemos inclusão financeira, geração de oportunidades e capacitação de moradores que passam a atuar como representantes e líderes de equipe, além de levar acesso a serviços de proteção até então pouco indisponíveis. Para o mercado, o projeto significa a abertura de um novo nicho, com soluções mais acessíveis, adaptadas à realidade local, e uma expansão significativa da base de consumidores”, afirma.

O projeto, segundo ele, não é apenas uma iniciativa comercial, é um ato de tradução.
“O primeiro desafio é cultural: desmistificar a ideia de que se proteger é caro ou inacessível. Outro ponto é a comunicação: traduzir termos técnicos para uma linguagem próxima ao cotidiano do morador. E o terceiro é a confiança. Por isso, formamos nossos representantes, que atuam como consultores, criando um elo de credibilidade entre o produto e o cliente”, diz Gama.
Em um ano de operação, a Favela Seguros já alcança resultados expressivos. A meta é chegar a 15 favelas no curto prazo. Depois disso, o plano é ambicioso: “Pretendemos, até 2026, apresentar nosso planejamento para os próximos cinco anos, contemplando a expectativa de clientes no período e o número de profissionais formados que estarão atuando conosco nessa missão de tornar o mercado cada vez mais inclusivo”, completa o executivo.
Favela quer ser ouvida
Mas, para compreender a verdadeira força dessa iniciativa, é preciso olhar para quem plantou sua semente.
Celso Athayde, fundador da CUFA e da Favela Holding, e sócio-fundador da Favela Seguros, acredita que as favelas sempre foram vistas pelo avesso. “O morador de favela paga por tudo: transporte, aluguel, prestação, crédito caro no cartão. Se paga por tudo isso, por que não pagaria por um seguro que protege a família, a casa ou o celular? Só que tem que caber no bolso e fazer sentido. O potencial está aí, falta é a indústria entender que favela não é problema, é potência”, afirma.
Para Athayde, o que está em jogo vai além de negócios: é uma mudança de mentalidade. “Seguro é dignidade, é futuro, é proteção contra o imprevisto. Popularizar essa cultura é dizer que o favelado também tem o direito de se preocupar com o amanhã, de proteger o pouco ou o muito que conquistou. Isso muda a autoestima, muda o jeito de consumir e até o jeito de se relacionar com o sistema financeiro”, explica.

Mas ele é direto ao apontar o que considera essencial para o sucesso de projetos desse tipo: “O principal ponto é que eles precisam ser construídos junto com quem mora aqui. Não adianta vir com produto de fora e tentar empurrar. Favela quer ser ouvida, quer participar da criação. Quando a favela ajuda a desenhar, a coisa pega de verdade. E mais: microsseguro não é caridade, é negócio. Se for bem feito, ganha a seguradora, ganha a favela e ganha o Brasil.”
A função social do seguro: oferecer proteção e segurança
Enquanto o Favela Seguros nasce de dentro da comunidade, o MAPFRE na Favela vem de fora, mas com disposição genuína de escutar. A iniciativa da MAPFRE Seguros é fruto de uma pesquisa profunda sobre o cotidiano e as necessidades das comunidades urbanas brasileiras. O objetivo era simples, mas ambicioso: entender como o seguro poderia, de fato, fazer diferença na vida das pessoas e dos pequenos empreendedores locais.
“Queríamos entender as necessidades desse público e de que forma o seguro poderia contribuir para o crescimento dos seus negócios e para a estabilidade das famílias”, explica Fátima Lima, diretora de Sustentabilidade da MAPFRE. “O MAPFRE na Favela cumpre a função social do seguro: oferecer proteção e segurança a quem antes não tinha acesso, com produtos criados a partir das demandas reais das comunidades. É uma maneira de fortalecer a sustentabilidade e ampliar o diálogo com a população de baixa renda.”
A pesquisa da MAPFRE revelou um país com mais de 11 mil favelas e comunidades urbanas, onde 5,2 milhões já são empreendedores, e outros 6 milhões sonham em abrir o próprio negócio. Foi desse retrato que nasceu o projeto-piloto em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, com mais de 58 mil habitantes.
A partir dali, a iniciativa começou a se expandir, alcançando outras quatro comunidades, somando um público potencial de cerca de 200 mil pessoas. “Nosso objetivo é possibilitar a inserção de um número cada vez maior de brasileiros ao mercado segurador, a baixo custo e de forma acessível, trazendo para suas realidades a valorização da cultura de seguros, a estabilidade econômica e a preocupação com o futuro”, diz Fátima Lima.

Foram criados três produtos de impacto social voltados a empreendedores locais, com valores compatíveis à renda média das famílias e contratação simplificada, feita com CPF, sem distinção entre pessoa física e jurídica. A lógica é inversa à do mercado tradicional: o produto se molda à vida do cliente, e não o contrário.
Mas os desafios continuam grandes. “Temos um desafio setorial de inserir a cultura de seguros de maneira geral no Brasil, e isso não é diferente nas favelas”, reconhece Fátima. “Por isso, disponibilizamos soluções acessíveis, eliminamos burocracias e firmamos parcerias com organizações como o G10 Favelas, que têm legitimidade local e ajudam a construir confiança. Também tivemos que criar um novo sistema, do zero, para permitir uma contratação simples, menos burocrática e com mais tecnologia.”
Para além dos produtos, o que impressiona é o processo de escuta. A MAPFRE entendeu que o seguro não se vende, se constrói, junto com quem precisa dele. E foi isso que o projeto se propôs a fazer: derrubar o muro invisível entre a seguradora e o morro.
A proteção que alcançou Kaique em Ceilândia
Em Ceilândia, a região mais populosa do Distrito Federal, Kaique da Silva Machado, 28 anos, cresceu vendo a mãe produzir doces na cozinha de casa. Por mais de trinta anos, ela manteve o pequeno negócio no fogão, enquanto ele, já adulto, passou a ajudar não só na produção, mas também no planejamento. A vida sempre foi corrida, improvisada, mas cheia de esforço, como a de tantas famílias brasileiras.
Kaique nunca imaginou que teria seguros. Até o dia em que a MAPFRE levou o projeto MAPFRE na Favela para a comunidade. Ali, no próprio bairro, sem sair da rotina, ele conheceu produtos feitos para o bolso e para a realidade de quem vive por ali.
Ele acabou contratando três seguros: um seguro funeral para ele; o Meu Trampo para proteger a cozinha da mãe, onde os doces da família são preparados; e o Meu Bem Protegido para o salão de beleza da esposa, que também funciona ali dentro da comunidade.
O que motivou a decisão foi a combinação que, para ele, faz toda a diferença: preço baixo, pagamento anual e contratação feita ali mesmo, onde mora.
“Os seguros ficam mais acessíveis assim. A gente entende melhor e sente que dá pra pagar”, conta.

E o seguro não demorou para mostrar seu valor. A batedeira da mãe, peça essencial do negócio familiar, estragou de repente. Comprar outra significaria um gasto pesado para quem trabalha de forma artesanal. Kaique acionou o seguro e recebeu o reembolso rapidamente. “O motoboy veio aqui buscar a batedeira. E, se não pudesse, eu podia mandar pelos Correios, pago pela seguradora. Foi tudo muito simples”, lembra.
No dia do evento, ele viu que não estava sozinho: vários vizinhos também contrataram seguros. A explicação, segundo ele, é básica: quando a empresa vai até a comunidade, explica com clareza e cobra um valor que cabe no orçamento, as pessoas se sentem incluídas. “É assim que a gente passa a consumir seguro. A gente entende que também faz parte disso.”
Com a proteção certa, Kaique agora planeja dar o próximo passo: colocar os doces nas plataformas de entrega de comida e ampliar o negócio da família.
Para ele, a diferença é clara: quando o seguro chega na favela, ele não vende só proteção, ele abre horizontes. O seguro, ali, não protegeu só uma batedeira. Protegeu um sonho, e abriu caminho.
“Favela é potência, não problema”
De formas diferentes, Favela Seguros e MAPFRE na Favela partem da mesma constatação: é preciso criar uma nova cultura de seguro, que comece pela confiança. No Brasil, o tema ainda é distante para boa parte da população, e nas favelas a barreira é ainda maior, a informalidade, a falta de educação financeira e a desconfiança histórica com instituições formais criam um terreno difícil.
Mas há sinais de mudança. Segundo o Instituto Locomotiva, mais de 80% dos moradores de comunidades afirmam que comprariam mais produtos e serviços se fossem tratados com respeito e representatividade. A chave, portanto, é o reconhecimento, não da favela como problema, mas como potência criativa, empreendedora e humana.
“Favela é potência, não problema”, insiste Celso Athayde. “O morador quer participar, quer ser ouvido. E quando isso acontece, ele vira parceiro, não cliente.”
E é nesse encontro entre escuta e presença que a inovação acontece, não a que vem das telas, mas a que nasce das pessoas.
A Favela Seguros já contabiliza dezenas de agentes locais formados e começa a expandir sua rede nacionalmente.
A MAPFRE na Favela, por sua vez, se consolida como um modelo de inclusão sustentável, com produtos acessíveis, distribuição feita por ONGs parceiras e resultados sociais que vão além do assistencialismo.
“O que queremos é criar cultura e acessibilidade, gerando impacto real”, reforça Fátima Lima. “Não é sobre caridade, é sobre oportunidade.”
A palavra favela vem de uma planta que resiste ao sol forte e floresce mesmo em terreno seco. E, como ela, quem vive nas favelas resiste, cria, empreende e segue, mesmo quando falta tudo. Agora, o mercado de seguros começa a enxergar essa força, apostando na mais poderosa das inovações: a humana.
Porque, no fim das contas, incluir é também segurar, no sentido mais bonito da palavra: dar segurança, sustento, dignidade.
Talvez o futuro do seguro brasileiro esteja justamente ali, nas vielas, nos becos e nas histórias de quem transforma adversidade em potência.
Afinal, inovação de verdade não é só sobre tecnologia. É também sobre gente.
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